Animal-based agriculture, phosphorus management and water quality in Brazil: options for the future
Shigaki, FranciroseSharpley, AndrewIgnácio Prochnow, Luís
Eutrofização dos mananciais de água se tornou uma preocupação nos Estados Unidos, Europa e Austrália. Na maioria dos casos, a eutrofização de mananciais de água é acelerada pelo aumento na quantidade de fósforo adicionada, o que tem estreita relação com o escorrimento superficial deste elemento, em função da intensificação dos sistemas de produção de culturas e animais a partir do início dos anos noventa. Em virtude de pouca informação com relação aos impactos da agricultura na qualidade da água, este artigo enfatiza modificações nos sistemas de produção de culturas e animais no Brasil no contexto das prováveis implicações quanto ao destino do fósforo no processo. Os dados apontam para um aumento de 33% no número de animais (gado de corte, gado de leite, suíno e frango) no período de 1993 - 2003, a maior parte deste aumento ocorrendo na região sul (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), onde se localizam 43% e 49% da produção de suínos e frangos, respectivamente. Enquanto a produção de gado de corte se dá predominantemente em sistema de pastejo a campo, com deposição do esterco sobre os pastos, a produção de suíno e frango ocorre em sistema intensivo de confinamento, o que resulta em elevadas quantidades de esterco em pequenas áreas. Assim sendo, a discussão irá focalizar na produção de suínos e frangos. Tendo em vista o peso médio de suíno (100 kg) e frango (1,3 kg), a produção diária de esterco (4,90 e 0,055 kg por suíno ou frango, respectivamente), e o conteúdo médio de P no esterco (40 e 24 g kg-1 para suíno e frango, respectivamente), estimou-se uma quantidade de 2,5 milhões de toneladas de fósforo nos estercos de suíno e frango, produzidas no Brasil em 2003. A maior parte foi produzida nas regiões sul e sudeste do Brasil (62% em conjunto), a qual representa apenas 18% da área do país. No contexto da exigência das culturas, os cálculos apontam para 2,6 vezes mais fósforo produzido nos estercos (1,08 milhões de toneladas) do que aplicado por meio de fertilizante (0,42 milhões de toneladas) na região sul em 2003. Diante do fato que a quantidade utilizada por fertilizantes representa o necessário para atender as exigências nutricionais das plantas, levando inclusive em consideração o fósforo adsorvido pelo solo, se o esterco de suíno e frango fosse considerado no sentido de substituir os fertilizantes aplicados, haveria uma sobra anual de 0,66 milhões de toneladas apenas na região sul. Estas aproximações e estimativas claramente indicam que, como em outras partes do mundo, existe potencial para esta sobra anual de fósforo rapidamente acumular em certas regiões do Brasil. A menos que medidas sejam desenvolvidas e implementadas para utilizar este esterco, repetidas sobras anuais irão conduzir a um problema de difícil resolução. Estas medidas podem ser agrupadas em dois tipos: as do manejo das fontes e as do transporte. As medidas que visam o manejo das fontes tendem a diminuir as quantidades de fósforo na dieta, usar aditivos no alimento, promover o tratamento e compostagem do esterco, bem como manejar com cuidado as doses, época, e método de aplicação dos estercos. As medidas visando o manejo no transporte objetivam controlar a perda de fósforo no escorrimento do solo para os corpos de água por meio da conservação do solo e resíduos, zonas vegetativas ribeirinhas de contenção, culturas de cobertura superficial, e pontes de aprisionamento ou áreas alagadas. Estas medidas são discutidas no contexto do clima, topografia, uso do solo, e ainda quanto ao sucesso dos programas de remediação a serem implementados em fazendas ou bacias hidrográficas.
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