VETINDEX

Periódicos Brasileiros em Medicina Veterinária e Zootecnia

p. 23-23

Babesiose bovina associada à endocardite vegetativa: relato de caso

Nascimento, Rayane Caroline Medeiros doSilva, Lucas Adonys Teixeira daSilva, Rafael Barbosa daCezar, Allan Rodolfo RibeiroWanderley, Bruno NevesNunes, Annelise Castanho Barreto TenorioAgular, Gildeni Maria Nascimento de

A babesiose bovina é uma hemoparasitose provocada por um protozoário Babesia spp. que causa diversos sinais clínicos, entre eles a redução no ganho de peso, o aborto, a anemia intensa, a febre e hemoglobinúria, sendo responsável por altos indices de morbidade e letalidade, de acordo com a categoria animal acometida, trazendo grandes perdas econômicas relacionadas aos custos com tratamentos nos rebanhos acometidos. O presente trabalho tem objetivo relacionar casos de babesiose bovina aos achados de necropsia de endocardite vegetativa na tricuspide. Entre os meses de outubro de 2015 e julho de 2016, 14 animais apresentaram sinais clínicos da doença, destes, quatro vieram a óbito. As 11 vacas adultas apresentaram redução na produção de leite, redução do apetite, emagrecimento, febre, anemia, variação no volume globular de 15% a 28%, além de alta infestação por carrapatos. Os animais enfermos foram tratados com dipropionato de imidocarb na dose única de 4mg/kg. A uma das vacas ainda foi fornecido o tratamento de suporte com fluidoterapia, vitamina B12, transfusão sanguínea e transfaunação, no entanto, não houve resposta ao tratamento. Este animal apresentou uma piora gradativa no estado geral, diarreia, não se mantinha em estação, mesmo com auxílio, vindo a óbito dois dias após a terapia de suporte. Dos pacientes que vieram a óbito, foi realizada a necropsia de três animais (A, B e C), nos quais foi possível observar entre os achados: anemia na carcaça e hepatoesplenomegalia. Na vaca A, além desses achados havia áreas de hemorragia na serosa do abomaso e no pericardio. Na vaca B observou-se efusão peritoneal (ascite), áreas hemorrágicas na serosa do rúmen, cardiomegalia, efusão pleural e degeneração gelatinosa das gorduras. Nas vacas A e B foi observado proliferação de tecido vegetativo na válvula da tricuspide, com tamanho de aproximadamente 7x5 centimetros, com superficie enrugada e margens irregulares em forma de couve flor e coloração esbranquiçada, caracterizando a endocardite. O diagnóstico de babesiose foi realizado a partir dos sinais clinicos, de dados hematológicos, dos achados de necropsia e do esfregaço sanguíneo onde foi encontrada a variedade Babesia bigemina. Os achados patológicos foram essenciais para o diagnóstico da endocardite, pois este é considerado o teste ouro para tal enfermidade. Nos bovinos a válvula tricuspide geralmente é a mais acometida, sendo característico da endocardite a proliferação de tecido nessa válvula. Sabe-se que a endocardite é a principal doença do endocárdio de bovinos, estando constantemente associada a infecções nos cascos, glândulas mamária, metrite, retículo pericardite, ou outras enfermidades que possam levar a uma bacteremia crônica, e, ocasionalmente, afecções parasitárias. Existem sinais clínicos da babesiose que são comuns a endocardite, como a febre intermitente, a taquicardia, dispneia e sopro cardíaco. No entanto, nem sempre os animais acometidos pela endocardite apresentam um quadro de falhas cardíacas, manifestando-os nos casos mais severos e avançados. Acredita-se que a via hematógena seja a principal forma de disseminação de bactérias que causam a endocardite nos bovinos, sendo a Trueperella (Archanobacterium) pyogenes e o Streptococcus sp., os principais microrganismos responsáveis pela enfermidade. A debilidade extrema dos animais pode ter causado um quadro de imunossupressão nos animais mortos na propriedade, possibilitando a bacteremia e então a lesão valvular dos animais. Todavía, mais estudos precisam ser realizados para determinar se há uma relação entre babesiose e a endocardite, assim como outros fatores predisponentes.(AU)

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