VETINDEX

Periódicos Brasileiros em Medicina Veterinária e Zootecnia

p. 771-779

Cães-domésticos em remanescentes de Mata Atlântica no sudeste do Brasil: padrões de entrada e de ocupação obtidos a partir de armadilhas fotográficas

Srbek-Araujo, A. CChiarello, A. G

A presença de espécies exóticas em remanescentes florestais é um dos maiores problemas para a conservação de táxons silvestres, não apenas em ilhas, onde o impacto potencial do contato entre os grupos citados revela-se mais significativo. Apesar deste problema ser amplo e crescente, poucos são os estudos desenvolvidos em florestas Neotropicais. Neste sentido, o presente estudo objetivou caracterizar a presença de cães-domésticos (Canis lupus familiaris) em uma reserva de Mata Atlântica localizada no Sudeste do Brasil (Estação Biológica de Santa Lúcia - EBSL). A partir de dois anos de monitoramento com armadilhas fotográficas (2.142 câmeras-dia), foram obtidos 25 registros de 16 indivíduos no interior da EBSL. Com relação ao número de registros obtidos, o cão-doméstico foi a quarta espécie mais registrada, considerando a mastofauna de maneira geral, e a primeira entre os Carnivora, estando à frente da jaguatirica e da onça-parda, os dois principais predadores terrestres presentes na EBSL. Os cães-domésticos entraram na reserva durante todo o ano, apresentando registros em quase metade dos meses de amostragem (48 por cento), predominantemente ao longo do dia (89 por cento). Os espécimes foram detectados em várias trilhas no interior da EBSL, principalmente em áreas próximas à borda reserva (<200 m da borda). A taxa de registros de cão-doméstico não esteve significativamente correlacionada com variáveis climáticas, com a freqüência de registros e a riqueza de mamíferos em geral, ou com alguma espécie de mamífero em particular (Correlação de Spearman, p > 0,05 em todos os casos), sugerindo uso errático e não sazonal da reserva. Os dados obtidos indicam que os cães-domésticos podem se tornar visitantes abundantes e freqüentes em pequenos remanescentes de Mata Atlântica, mesmo quando estes estão localizados em regiões com baixa densidade populacional humana. O potencial impacto do cão-doméstico sobre a fauna silvestre é discutido.

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